Luna, Vida e Jade

É sempre prazeroso encontrarmos histórias de adoção com finais felizes. Com a situação dos animais abandonados no Brasil sendo tão caótica, precisamos valorizar ainda mais as ações de pessoas que lutam pela causa animal e se esforçam para que os bichinhos tenham uma vida mais saudável e com muito amor. No caso de Vivian Machado, gerente de comunicação interna do Carrefour, esse final feliz se multiplica por três.

Um “ratinho” em Guarulhos

Há nove anos, Vivian estava a serviço em Guarulhos, na região da Grande São Paulo, quando reparou em um pequeno movimento perto de um lixo próximo ao lugar onde estava. Em um primeiro momento pensou ter visto um rato, de tão pequena e escura era a sombra se movendo. Ao se aproximar, percebeu que era um filhote de York Shire com no máximo alguns dias de vida. “Ela estava em um lixo próximo a uma casa. A dona veio conversar comigo e disse que algum animal havia pulado a cerca e cruzado com sua cachorra, mas que não tinha condições de cuidar dos filhotes. Na hora, avisei meu chefe que uma emergência tinha acontecido e não poderia comparecer a um compromisso. Na época, eu morava em São Caetano e não havia Uber. Enrolei a cadelinha em um pano, peguei o primeiro táxi que encontrei e fui direto para casa”.

Como todo tutor de pet deveria saber, cuidar de um cachorro não é nada fácil, e Vivian tinha consciência disso. “Comecei a ler sobre filhotes que perdem a mãe muito cedo e comprei diversas coisas que precisava. Ela tomava leite no conta-gotas e eu colocava uma bolsa de água quente próxima a um relógio de ponteiro. O barulho do relógio remete ao coração da mãe”, conta Vivian. Foi assim, então, que Vivian conheceu Luna, nosso primeiro final feliz.

Uma nova Vida

Algum tempo depois, Vivian estava morando em Minas Gerais. Seu marido fora transferido para Contagem, uma cidade onde diversos animais se encontram em situação de risco. Por conta da alta demanda de cuidados, diversas ONGs, com o apoio da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), fazem excelentes trabalhos em prol da causa animal.

Foi durante o seu tempo em Contagem que Vivian conheceu Vida, uma vira-lata que mexeria bastante com o casal. “Eu vi diversos animais abandonados próximos ao meu trabalho. Gatos, cachorros e até um cavalo apareceu uma vez. Um dia, meu marido, que trabalhava no mesmo local, foi até a minha área e falou de uma cachorrinha que sempre aparecia no refeitório enquanto ele estava lá. Era sempre no mesmo horário e ele a alimentava. Logo ele disse que estava apaixonado e queria adota-la”, relembra.

Diferente de como foi com Luna, adotar Vida foi uma tarefa mais complicada. A cachorrinha sempre andava na companhia de outro cachorro, mais forte, chamado de Negão. Era o seu companheiro fiel e que sempre estava lá para protegê-la. “Um dia eu a encontrei sozinha e tentei me aproximar, mas ela saiu andando e atravessou a estrada. Fiquei muito assustada, com receio do que poderia acontecer com ela. Depois disso, ela sumiu por uns 10 dias. Tive até pesadelos sobre o paradeiro dela. Durante esse tempo, eu comentei com uma senhora, uma catadora de papelão que morava em uma casa simples próxima ao meu trabalho, que estava à procura de uma cachorrinha que ficava por ali. Ela disse: ‘que bom, pelo menos uma nós vamos poder salvar’. Ela era bem simples e alimentava alguns gatos em sua casa. Em um sábado, ela me ligou e disse que havia encontrado a Vida, a qual ela chamava de Serena. ‘Encontrei a Serena! Ela está em uma caixa aqui apenas esperando por você’. Fui direto para sua casa e levei alguns mantimentos como retribuição”, conta Vivian.

Por ser bastante ativa na causa animal, Vivian conheceu diversas pessoas durante sua passagem por Contagem que também lutavam para dar uma vida melhor para os animais. Assim que encontrou Vida, a levou para a ONG Cão Viver, para que todos os exames fossem feitos. “O trabalho da Cão Viver é ótimo. Paguei um valor simbólico como garantia de que voltaria para levar a Vida. Os exames clínicas deram bons resultados e eles a castraram. A veterinária disse que, na época, Vida estava com quase um ano de idade. Hoje está com quase 6 anos e tem muita energia”.

O presente de Natal

Seis meses após conhecer Vida, diversos animais passaram pelo trabalho de Vivian. Pelo alto número de bichinhos abandonados na área, pessoas de toda a cidade contribuíam para que nem todos ficassem desamparados. “Você acaba conhecendo muita gente que luta pela causa animal. É quase uma rede inteira”, comenta Vivian.

Certo dia, durante o calor do verão de dezembro, outra cachorrinha chamou a sua atenção. “Foi uma tarde que choveu muito. Nunca me esqueço, era uma bolinha de pelo encolhida na chuva. Eu tentei um primeiro contato, mas ela não esboçava reação. Fiquei muito preocupada, pensei nisso durante toda tarde e, particularmente, não estava sendo um dia bom no trabalho. Eram quase 10 da noite quando estávamos indo embora e eu comentei com o meu marido que precisava checar a situação da cachorra de novo”.

Ao ir ao encontro da cadelinha, Vivian percebeu que ela não estava bem. Tentou alimenta-la com uma bolacha e percebeu o esforço que ela fazia para levantar a cabecinha. “Eu tirei meu casaco e a enrolei no meio. Ela estava imunda e cheia de carrapatos. Fomos direto para casa e dei um belo de um banho. Depois que você passa por isso a primeira vez, sempre guarda um kit em casa. Demos alguns remédios e tiramos o máximo de carrapatos que conseguimos. Ela me lambia o tempo todo”, lembra.

Após um tempo de “quarentena”, quando não podia entrar em contato com outros cachorros até saber se havia alguma doença, Jade, nome dado por Vivian, foi diagnosticada com diversos problemas. Além de uma doença cardíaca, uma infecção generalizada tomava o seu corpo. Segundo o veterinário, sua sobrevivência seria algo difícil. “Era dia oito de dezembro quando o veterinário me contou o estado de Jade. Eu venho de uma família muito católica, então rezei para que São Francisco a salvasse. Eu a visitava sempre que podia, até deixei de viajar para o Rio de Janeiro com a minha família. No dia 24, véspera de Natal, eu recebi uma ligação. Era o veterinário. ‘Venha buscar o seu presente de Natal. Ela está de alta’. Me emociono só de lembrar”.

Mesmo após superar tantos problemas, Jade ainda enfrentou um último obstáculo: a leishmaniose. Na segunda vez em que fez o exame, ficou-se sabendo que a cadelinha era positiva para a doença. “Eu disse que iria até o inferno para salvar a minha cachorra”, relembra Vivian. “Falei para o médico que gastaria o dinheiro que fosse para resolver esse problema. Para a nossa sorte, havia um tratamento em Portugal, ainda desconhecido no Brasil, que poderia ajuda-la. Nós o fizemos e hoje ela é considerada clinicamente curada”. A leishmaniose ainda não tem 100% de cura, então Jade terá que tomar remédios até o final de sua vida. O que não diminui em nada sua história de superação.

“Eu sou publicitária, mas me envolvi tanto com a causa animal que me sinto uma bióloga ou veterinária frustrada. Hoje eu tenho um filho pequeno que me demanda muita atenção, mas tento ajudar como posso, contribuindo com pessoas que fazem trabalhos sérios e que realmente percebem a importância da luta pela causa animal”, finaliza Vivian.

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